Muitas pessoas que passaram pela faculdade de Administração de Empresas, assim como eu, já devem ter ouvido a estória a seguir. Para quem conhece e também pra quem ainda não conhece, aí vai a história (com algum floreio, admito):
Uma empresa de sabonetes estava perdendo clientes pois, ao mandar os carregamentos para os varejistas, os mesmos percebiam que muitas caixas de sabonete estavam vazias. Desconfiados, alguns varejistas começaram a cancelar seus pedidos para a tal fábrica, acusando-a de desonestidade.
Para resolver o problema, a empresa chamou um grupo de engenheiros para rever o processo de produção. Instalaram sensores, balanças, laseres e nada surtia efeito... Umas soluções geravam gargalos que aumentavam o custo de produção. Outras, além de aumentar custo eram pouco efetivas. E assim, os engenheiros e suas engenhocas se complicavam cada vez mais tentando bolar uma solução tecnológica e efetiva o suficiente para não ter mais caixas de sabonete vazias.
Eis que no meio de uma das visitas dos engenheiros, o "Seu Severino", tiozinho que passava o tempo inteiro com uma vassoura, de um lado pro outro, limpando o chão da linha de produção, se intrometeu:
- "Posso dar uma sugestão?" - pergunta Severino no alto de sua simplicidade.
Os engenheiros vendo aquele matuto pedir a palavra começaram a rir e um já ia mandá-lo sair dali quando o Diretor de Produção intrigado respondeu:
- "Claro, Seu Severino... a essas alturas, toda ajuda é bem vinda!"
Eis que Severino fala o seguinte:
- "Por um acaso não é melhor colocar um ventilador ali no final da esteira? É que se a caixa estiver sem sabonete, quando passar na frente do ventilador, ela vai ser soprada pra fora. E as que tiverem sabonete vão estar pesadas. Daí elas não saem da esteira, e podem ir pras caixas que vocês colocam no caminhão"
Tanto o Diretor de Produção quanto os Engenheiros ficaram boquiabertos com tamanha perspicácia do matuto. Fizeram um teste com um ventilador super simples, desse que se compra nas lojas mesmo. E o resultado foi imediato. Nada de laser, balança e o raio que o parta: o que precisavam mesmo era apenas de um simples ventilador para soprar para fora da esteira as caixinhas sem sabonetes.
Bem, o que aconteceu com o Seu Severino ninguém sabe. Dificilmente ele tenha virado gerente ou diretor de alguma coisa. Mas o ponto central é que ele fez uma coisa que a grande maioria das pessoas hoje em dia não faz: ele simplificou as coisas.
Simplificar tem sido cada vez mais difícil. Nos prendemos em conceitos e pré conceitos que nos limitam nas nossas ações. Tudo parece extremamente complicado, tudo requer uma solução altamente sofisticada quando na verdade, uma pequena ação, por menor que seja, é o suficiente para terminar com um baita problema. Este exemplo que eu aprendi na faculdade era muito voltado para processos, relações profissionais, etc. Mas esta estorinha se estende a todas as situações. Em um relacionamento, por exemplo.
Quando você diz para o Fulano que está com um problema que depende do Ciclano para resolver, já perdeu tempo o suficiente para falar diretamente com o Ciclano para pedir ajuda e resolver de uma vez o problema. Quando alguém te faz uma pergunta cuja resposta é sim ou não e você responde explicando todo o contexto e a problemática da dialética, além de você provavelmente não responder a pergunta que foi feita, vai ser considerado um baita mala sem alça. Sem contar que, como já diz o ditado, a beleza da vida está nas coisas mais simples. O engraçado é que todos nós falamos nisso, mesmo que não pratiquemos.
Sem querer complicar já complicando, basta recorrer à matemática. A menor distância entre um ponto A e um ponto B é uma reta, não uma curva. Então, porque gostamos tanto de dar curvas e voltas ao invés de simplesmente andar em linha reta?
Eu estou convencido de que simplificar é mais simples do que parece. Mas andamos complicando tanto as coisas que até o que não é complicado fica difícil de resolver.
FUI CLARO?
